O final da trança de Inês...

(...) Era uma vez um príncipe que amava tanto a sua princesa que tudo lhe parecia pouco para satisfazê-la.
Como ele era muito bom e amigo dos pobres, um dia apareceu-lhe um anjo que lhe disse, por tuas bondades e acções caridosas e amor à tua princesa aqui tens umas asas com as quais poderás voar directamente aos céus na hora em que Deus te chamar. Mas tem cuidado, não as uses para outros fins nem com elas viajes pelos céus do mundo, porque se gastam e já não poderás alcançar o paraíso.
O príncipe agradeceu e guardou as asas no fundo do seu baú. O tempo passou e quase se esqueceu delas, até ao dia em que a sua princesa adoeceu e o prícipe se pôs a pensar que as asas talvez pudessem voar para algum lugar da terra onde encontrasse cura para os males da sua amada.
Mas ela contou-lhe que recebera a visita de uma fada que lhe dissera que ficaria curada se fosse possivel alguem ir ao céu buscar uma estrela para lhe prender os cabelos.
Ouvindo isto o pr´ncipe foi buscar as asas e preparou-se para a viagem. Sabia que estava a renunciava ao paraíso mas achou que era egoísmo deixar morrer a princesa para salvar a sua alma.
Então voou até ao céu e trouxe uma estrela das mais pequeninas.
Logo se formou uma enorme tempestade, as nuvens ramalhavam, os mares erguiam-se, os rios saiam dos leitos, a chuva tinha a grossura de cordas e os relâmpagos cruzavam os céus como se quisessem pegar fogo ao universo.
O príncipe agarrado à sua estrela e com as asas quase gastas veio cair no meio da noite negra, num campo de abóbora-menina.
Tropeçando e tropicando lá conseguiu avançar contra a ventania brava que o levantava e o deixava cair, alumiando-se com a luz da estrela no bolso do seu gibão.
Chegou finalmente ao palácio e a princesa, que já agonizava, ficou livre de todos os seus males assim que seu amado lhe prendeu os cabelos com a estrela roubada.
Então a tempestade redobrou e ouviu-se a voz do anjo que bradava.
vê o que fizeste, insensato. Olha para o céu e repara no dano que lhe causou o teu amor terreno.
Com efeito, no lugar donde o príncipe roubara a estrela agora um enorme buraco negro por onde saía o temporal.
Temendo algum terrível castigo foi o príncipe para a igreija pedir perdão a Nossa Senhora pela sua soberba, que julgara poder usar os bens do universo em seu proveito e da sua amada.
As suas lágrimas eram tão sentidas que Nossa Senhora se apiedou dele e do alto do seu altar ganhou vida, desceu para confortá-lo e lhe disse
toma uma estrela do meu manto e vai colocá-la lá, onde uma estrela falta. Darei força ás tuas asas para mais esta viagem. E quanto á outra a ultima, a caminho do paraíso, não te aflijas que eu mandarei os meus anjos para te ajudarem na jornada.
O príncipe pensou que tinha dormido no genuflexório de veludo e tinha sonhado com aquela voz maviosa, mas olhou para o lado, onde uma luz o atraía e viu, pousada nas lajes uma estrela de brilho nunca visto.
Então , sem hesitar, pôs as asas e foi colocá-la no buraco negro e feio feito por suas mãos.
A tempestade acalmou como por encanto e no dia seguinte, ainda antes de nascer a aurora, viu-se no céu a estrela entre todas maravilhosa e brilhante, a que os pastores chamaram a estrela da manhã. (...)
(...) Restas-me tu.
Resta-me amar-te ainda.
Recordar como tinhas dito, do
alto da tua soberba virgindade,
virá uma noite em que seremos um.
E fomos. Como desde o principio
do mundo, fomos.(...) Jus prima nocte.
Macho e fêmea.
Mulher e homem.
Pedro e Inês. (...)
Autor: Rosa Lobato de Faria
Obra: A Trança de Inês

1 Comments:
Já tinha ouvido falar da trança de Inês e foi graças a ti que finalmente li os escritos de Rosa Lobato Faria
:)
baci per te
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